Descartes, René du Perron (1596-1650)

Elaborado por: Daulins Reni Emilio - RA 931444

Dados Biográficos

René Descartes (1596-1650), filósofo, cientista e matemático francês, considerado com Francis Bacon, um dos fundadores da Filosofia moderna, nasceu em 31 de março de 1596 em La Haye uma pequena cidade do distrito de Touraine hoje chamada La Haye-Descartes, em sua homenagem. Por volta dos dez anos entrou para o colégio jesuíta de La Flèche, perto de Le Mans, fundado por Henrique IV, onde estudou Línguas Clássicas, Lógica, Ética, Matemática, Física, Metafísica; mais tarde ele viria a criticar o ensino de La Flèche. Desde a mais tenra idade, mostrou-se um tipo meditativo, impressionando seus mestres pela profundidade e independência de seu caráter e pela insistência em não aceitar sem reflexão os ensinamentos e opiniões recebidos.

Na época em que os movimentos intelectuais da Idade Média e da Renascença entravam em declínio, ele concebeu novas idéias para a filosofia e a ciência, elaborando-as e defendendo-as com originalidade e brilhantismo. Seu pai, que jamais lhe soube reconhecer o gênio, nem mesmo quando seus escritos já o haviam tornado célebre, costumava chamá-lo "meu pequeno filósofo".

Aos 17 anos, havia aprendido tudo que, em seu tempo, era ensinado nas escolas. Em 1614 ele formou-se em La Flèche e dois anos mais tarde, talvez para satisfazer seu pai obteve o Grau em Direito na "University of Poitiers".

A família de Descartes era bem colocada financeiramente e com a morte de sua mãe ele recebeu uma herança que lhe proporcionou uma posição relativamente confortável durante toda vida. Descartes parece ter tido consideráveis dificuldades em se encontrar. Até por volta dos 30 anos sua devoção aos interesses filosóficos e científicos, que haviam sido despertados em La Flèche, foi algo inconstante e sem uma sistemática. Períodos no qual sua atividade intelectual era intensa e produtiva se intercalavam com períodos nos quais levava uma vida diletante.

Descartes gastou vários anos como soldado, uma ocupação comum na época a jovens oriundos de sua classe social. Em 1617 foi para a Holanda, onde serviu como voluntário nos exércitos de Maurício de Nassau, passando, depois, ao serviço de vários príncipes alemães. Entre 1619 e 1620, em uma cidade próxima de Ulm ou Neuberg, no Danúbio, é que deve ter tido a intuição da Geometria Analítica e de um novo método para a organização de uma filosofia. Isto depois do encontro com Isaac Beeckman, um matemático e físico que reconheceu o talento de Descartes e a quem ele creditaria o despertar de seu torpor intelectual; Após esse período na Alemanha, Descartes encerrou sua carreira militar.

Primeiro período criativo

Durante o período em que ficou na Alemanha Descartes manteve e intensificou sua intelectualidade, previamente gerada por suas discussões com Beeckman. Não muito tempo depois de ter deixado a Holanda, ele fez algumas importantes descobertas matemáticas, e este sucesso inspirou-o com ambição. Seus esforços se estenderam e atingiram o ápice no outono de 1619, quando ele concebeu o plano da ciência universal, na qual todos os problemas suscetíveis à razão humana poderiam ser resolvidos e na qual todas as verdades filosóficas e científicas poderiam ser unificadas como um único sistema.

A exaltação induzida neste período de trabalho e intensa criatividade foi seguida pela exaustão e auto questionamento, e então ele entrou em uma breve crise emocional. Nas noites de 10 e 11 de novembro ele teve três sonhos que o impressionaram profundamente. Ele interpretou os sonhos como sendo o reflexo de seus conflitos. Suas ansiedades aparentemente foram resolvidas quando ele interpretou o significado dos sonhos. Sob sua visão os sonhos diziam, entre outras coisas, que sua missão era desenvolver um sistema de pensamento, cuja possibilidade ele acreditava ter descoberto.

Entre 1619 e 1627, Descartes viveu em Paris por vários anos e gastou o resto do tempo viajando. Ele viveu na Itália mais ou menos por 18 meses (1623-1624). Por algum tempo ele se juntou à vida social de Paris, mas o papel de cavalheiro não o satisfazia, e ele terminou por mudar-se sem deixar notícias aos amigos. Ele escreveu muito pouco durante este período, mas sua reputação foi crescendo, e passou a ter acesso aos mais avançados círculos intelectuais.

Parte da visão de Descartes da ciência universal era a noção do método de questionamento pelo qual o progresso na filosofia e nas ciências deveria ser mais confiavelmente obtido. Excetuando os episódios de inatividade e distração, ele devotou-se profundamente ao uso de seu método e ao refinamento de sua concepção. Ele ficou especialmente fascinado pelo telescópio, o qual tinha recentemente conhecido na França, passando então a trabalhar em vários problemas de ótica, com a intenção de desenvolver lentes telescópicas mais efetivas.

No final de 1927, Descartes teve uma longa conversa a respeito de seus princípios filosóficos e científicos com Pierre Cardinal de Bérulle, uma figura de destaque no Catolicismo Romano da França. Ele convenceu Bérulle que o que ele havia concebido deveria levar ao progresso em diversas áreas em geral e da desta forma seria de enorme benefício prático para a humanidade, o que levou Bérulle a aconselhá-lo a devotar todas as suas forças a este empreendimento e tornasse possível que outros o acompanhassem. Esta conversa evidentemente teve um impacto decisivo sobre Descartes. Imbuído de um grande senso de responsabilidade, ele resolveu melhorar suas condições de trabalho e concentrou-se totalmente em atingir os resultados que acreditava poder obter com seu método. Foi mais ou menos quando decidiu se mudar para a Holanda, onde o clima era mais frio e onde ele não estaria sujeito as distrações da vida francesa.

Mudança para a Holanda

Descartes estabeleceu-se na Holanda em 1628 e, exceto por rápidas viagens a França lá permaneceu até 1649. Por volta de 1633 ele terminou seu maior trabalho intitulado "Le Monde", no qual ele apresentava parte do seu trabalho sobre física e alguns dos resultados de suas pesquisas em fisiologia e embriologia. O livro seria publicado, mas Descartes soube que a Igreja Católica havia condenado Galileo por apoiar a teoria copernicana do sistema solar. Uma vez que sua teoria astronômica desenvolvida em Le Monde, era também copernicana, Descartes não a publicou, só aparecendo vários anos após sua morte.

Em 1637, Descartes publicou anonimamente três ensaios (Essais) que diziam respeito aos resultados de seu trabalho em geometria, em ótica e em meteorologia, cujo prefácio era um longo "Discours de la Méthode". Embora a maioria dos escritos da época estivessem em latim Descartes escreveu o Discours e os ensaios em francês. Ele esperava que seus escritos não fossem lidos apenas pelos acadêmicos, mas sim por homens inteligentes em geral, e eventualmente por mulheres.

O discurso foi escrito em sua maior parte com grande lucidez e charme, e é largamente reconhecido como um dos clássicos da literatura francesa. Ele contém uma autobiografia intelectual, esquemas do método de Descartes e metafísica, análise de certas questões científicas e uma discussão das condições e prospectos do progresso da ciência. Apesar do título, ele não contém uma análise detalhada de seu método. Em 1628, antes de deixar a França Descartes havia começado a escrever, em latim, um tratado sobre o "método" chamado Regulae ad Directionem Ingenii ("Regras para a Direção do Pensamento"). Este foi seu único trabalho substancial em metodologia, mas ele não o completou e seu manuscrito só foi publicado em 1701, mais de 50 anos após sua morte

Em 1641, Descartes publicou em latim seu mais importante livro sobre metafísica, "Meditationes de prima philosophia" ("Meditações Metafísicas"), onde tenta estabelecer a estrutura e as considerações básicas que ele acreditava o progresso da ciência necessitava. Ele dedicou o "Meditationes de prima philosophia" às autoridades teológicas da França. Em 1644 ele publicou, novamente em latim, uma obra completa de sua visão científica e filosófica, entitulada "Principia Philosophiae", que foi feito com a intenção de ser utilizado como texto escolar. Contudo suas doutrinas foram grandemente reconhecidas, por ambos a Igreja Católica e a Protestante, como um tratado anti-ortodoxia, e nunca obtiveram a sanção oficial desejada. A maioria de seus livros, de fato, foram finalmente colocados pela Igreja Católica Romana no "INDEX" o índice de livros proibidos e nunca foram retirados.

Descartes era evidentemente capaz de considerável generosidade em certas relações. Mas ele não reconhecia prontamente os débitos intelectuais ou o valor de trabalhos feitos por homens que não estivessem sob sua influência. E tratava os críticos com antipatia, ou aqueles que ele julgava sem valor intelectual, ele era inclinado a ser arrogante e tempestuoso. Ele levou uma vida isolada na Holanda, mantendo seu endereço em segredo de todos, exceto de uns poucos amigos. Mas ele manteve uma intensa correspondência em tópicos filosóficos e científicos com o diplomata e poeta holandês Constatijn Huygens; com a Princesa Elizabeth da Boêmia, à qual dedicou seu "Principia Philosophiae" ; e, através de seu amigo, o matemático Marin Mersenne em Paris, com muitos outros que estivessem interessados em seu trabalho.

Últimos Anos

O último livro que Descartes escreveu foi "Les passions de l'âme (1649)", no qual tratava principalmente de psicologia, ética e da relação entre mente corpo. Em 1649 foi visitar Estocolmo, convidado pela Rainha Cristina da Suécia, grande admiradora sua, a qual esperava que Descartes ensinasse sua filosofia e criasse um Instituto para o avanço da ciência, ali faleceu, quando decaiu a sua sempre precária saúde a 11 de fevereiro de 1650, sendo enterrado na Suécia. Descartes contraiu uma pneumonia quando foi socorrer seu amigo Pierre Chanut, embaixador francês na Suécia. Em 1666 seus restos mortais foram levados a Paris e enterrados na Igreja de Ste. Geneviève du Mont; em 1819 eles foram removidos para a Igreja de St. Germain de Prés, exceto seu crânio, o qual está no Musée de l'Homme.

Contribuições relevantes: Doutrinas

Descartes assenta em posição dualista a questão ontológica da Filosofia: a relação entre o pensamento e o ser. Admitia duas substâncias: a do corpo, cujo atributo era a extensão, e a da alma cujo atributo era o pensamento. Assim, dois princípios independentes: um material e outro espiritual. A existência do corpo e da alma estava determinada por uma terceira substância: Deus.

Por conseguinte, opunha-se à Filosofia da Idade Média. Plenamente convencido do potencial da razão humana, propunha-se a criar um método novo, científico, do conhecimento do mundo e substituir a fé cega pela razão e pela ciência. Recorre, para isto, à "duvida: como método de raciocínio", com a ajuda do qual poderia livrar-se de todas as idéias preconcebidas ou noções habituais e estabelecer verdades irrefutáveis. Dúvida da exatidão de nossas representações do mundo, assim como da existência do próprio mundo. Mas, ao duvidar de tudo, reconhece que duvidar significa pensar. Assim, chega à famosa conclusão: "Penso, logo existo". Partindo do achado da existência de seu próprio "eu", percebe que o mundo exterior existe igualmente.

Com a teoria do conhecimento, Descartes torna-se o pai do racionalismo. Crê que os sentidos não nos dêem mais que uma representação confusa dos objetos, podendo, assim, induzir-nos aos erro. O critério da verdade encontra-se na razão mesma. Sua filosofia esforça-se, em suma, por conciliar a religião e a ciência, sofrendo a influência da ideologia burguesa do; século XVII, que refletia, ao lado das tendências progressistas da classe em ascensão na França, o temor das massas populares. Foi Descartes, sendo ainda, físico e matemático, o fundador da Geometria Analítica.

Em sua Física, sustentava que a Natureza é um conjunto de partículas materiais. A essência da matéria seria a extensão e o movimento do mundo material eterno, desenvolvendo-se de acordo com as leis da Mecânica.

Obras

Principais obras:

  • "Regulae ad Directionem Ingenii", ("Regras para a Direção do Pensamento", 1628);
  • "Le Monde", ("O mundo ou Tratado Sobre a Luz", 1633);
  • "Discours de la Méthode", ("Discurso do Método", 1637);
  • "Meditationes de prima philosophia", ("Meditações Metafísicas", 1641);
  • "Principia Philosophiae" ("Princípios da Filosofia", 1644).

    A primeira tradução do Discurso em língua portuguesa apareceu no Brasil por ocasião do terceiro centenário de nascimento do filósofo, obra de Miguel Lemos, um dos líderes do movimento positivista. Em 1939 e 1952, outras duas traduções vieram a lume, tomando por base a primeira. Finalmente, em 1960, uma nova tradução, esta da autoria do professor João Cruz Costa, foi publicada, com introdução e notas do autor. Da bibliografia cartesiana no Brasil. pouco numerosa, destaca-se a obra de Ivan Lins, Descartes (Época, Vida e Obra), 1940.

     
    Bibliografia

    Dictionary of Scientific Biography - Vol 4
    Enciclopédia Barsa - Vol 5
    Encyclopedia Britannica Editores Ltda. Ed.1967
    Encyclopedia Americana - Vol 8
    Enciclopedia Delta Universal - Vol 5